Fitas enroladas, gravações mal feitas com ruído de fundo, cortes absurdos, sobreposição de sons, fitas partidas! Consequência: stress, leitores avariados, ou propositadamente avariados com um soco de desespero.
É assim que a maioria recorda a utilização das cassetes.
Inventada em 1963 pela Philips, chegou ao mercado dois anos depois e rapidamente se tornou objecto essencial dos insaciáveis consumidores de música. Não só através dos registos oficiais mas sobretudo as cassetes-virgem, para gravação.
O pico da utilização da cassete deu-se no final da década de 80, altura em que as (ripping off) receosas discográficas alertavam para a pirataria, apontando a cassete como o mal que iria destruír a música (mal sabiam o que estava para vir).
Certo é que a cassete áudio representava o melhor veículo de divulgação musical, responsável pela criação de verdadeiros cultos de inúmeras bandas.
O conceito "mix tape", por exemplo, imortalizado por Nick Hornby no romance Alta Fidelidade, posteriormente recriado para a tela do cinema, consistia na compilação de temas criteriosamente seleccionados, muitas vezes em função do destinatário. A criação de uma "mix tape", era na verdade um momento de arte: selecção cuidada e coerente de temas, precisão no momento de pressionar as teclas de gravação. Era um processo moroso. Se a fita disponibilizava 90 minutos, a gravação, em tempo real, duraria certamente mais que essa hora e meia... e era com um ar superior com que se apresentava a obra de arte concluída.
Hoje não é assim. A cassete áudio morreu, praticamente. Hoje, como reflexo da sociedade em que vivemos, com vantagens e desvantagens, é muito fácil criar uma compilação, em CD, através do computador e sem perder muito tempo. Nem sequer é necessário correr para as lojas para adquirir um disco deste ou daquele músico. Tudo está à distância de um "click".
Eu, sinceramente, tenho saudades dos tempos em que se produziam essas obras de arte. Certamente, por essa razão, quando me pedem para elaborar uma compilação em CD ainda demoro alguns... bastantes dias a entregar. Certamente por isso ainda mantenho o leitor de cassetes no meu carro. Mesmo que me chamem de velha-guarda!