2008 não foi um ano particularmente excitante no mercado discográfico. É reduzido o número de álbuns dignos de registo e, entre esse grupo limitado, nenhum será relembrado como tendo sido decisivo para a história da música.
Há contudo um dado de relevo à margem de todo este quadro: mais uma compilação dos agora regressados
Jesus and Mary Chain. Não é o tão aguardado e anunciado novo álbum de originais mas também não será apenas mais uma colectânea de lados b e raridades da obra dos irmãos Reid.
The Power of Negative Thinking reúne quatro cd's que agrupam cronologicamente todo o material extra álbuns de originais confirmando, uma vez mais, a "bipolaridade" do som dos
Jesus and Mary Chain caracterizado por melodias intensas e puras ou cobertas pelo manto sónico e único criado pelos irmãos de East Killbride.
Olho para
The Power of Negative Thinking de uma forma tripartida: as canções publicadas em anteriores compilações (Barbed Wire Kisses, The Sound of Speed e Hate Rock' n' Roll), os temas que apenas haviam sido editados como lado b de singles e o material inédito e que eu desconhecia.
Do primeiro grupo pouco ou nada haverá para dizer, para além de confirmar os temas clássicos ao alcance de todos há muitos anos.
Vejo o segundo grupo quase como uma traição. Era um "segredo bem guardado", o patamar quase inatingível do universo Mary Chain, só ao alcance de fãs mais obsessivos. Refiro temas como
Silverblade (do EP Rollercoaster e que faz com You Trip Me Up o mais agressivo e belo par de músicas de amor da história),
Vegetable Man (a clássica e inflamada versão da música de Syd Barret que faz o lado b de Upside Down ),
Ambition e Suck (paranoia Mary Chain até agora só disponível no single Never Understand), a versão original de
Just Out of Reach e
Boyfiend's Dead (do single You Trip Me Up) a versão demo de
Just Like Honey, entre outros...
Do terceiro grupo regozijo-me por finalmente juntar à minha colecção a versão Summer Mix da cover de
Surfin' USA, verdadeiramente mais surf e menos inflamada. Entre os inéditos, as demos de
Never Understand, The Living End, My Little Underground e
Dirty Water descortinam novos pormenores sobre o processo criativo de Jim e William Reid. Fascinante será ouvir o suave tema
Up Too High, uma demo de 1983 que abre o álbum e que os
JAMC recuperaram recentemente num concerto em Londres, o tumultuoso
Walk and Crawl do início da carreira e que ainda hoje pode ferir ouvidos mais desprevenidos e ainda o delicioso
Till I Found You dos anos 90 e que confirma os pensamentos mais pop dos irmãos Reid.
The Power of Negative Thinking é um documento de enorme relevo para compreender não só a carreira dos
Jesus and Mary Chain mas também muito do rock que por estes dias se executa.
A tudo isto acresce uma excelente apresentação gráfica que torna este álbum ainda mais apetecível.
Muito da obra dos
Jesus and Mary Chain fica, contudo, por publicar
e vai permanecer no desconhecido para a maioria do público... menos por estas bandas... ou não estivesse eu no
terceiro lugar do top de fãs da banda... logo atrás dos irmãos Reid...