segunda-feira, agosto 10, 2009

Leo Fender - 100 anos




A ARMA DE UMA REVOLUÇÃO

Uma guitarra em chamas, no palco, ainda ao sabor de um turbilhão sónico que motiva efusivos aplausos e sob o olhar grave do músico que acabara de lhe atear fogo…
A cena, protagonizada por Jimi Hendrix no final do (por muitos considerado mítico) concerto do Pop-Rock Festival de Monterey de 1967, assume-se como a imagem chave de uma história comum: a da música contemporânea e a da Fender.
Incendiada por Hendrix, espancada por Pet Townshend, idolatrada por Keith Richards, companheira de aventuras tidas como menos próprias de Bob Dylan e apesar de inicialmente desprezada pelos Beatles, a guitarra concebida por Clarence Leo confirmou, em múltiplas sonoridades e nos seus diferentes formatos, o papel de arma preferencial na revolução musical da segunda metade do século XX.
Lado a lado com a Gibson (a sua grande concorrente) a Fender alcançou o que muitos apelidam de fórmula mágica do som: o timbre, quando “limpo” conferiu elegância mesmo a ritmos quase marginalizados ou vulgarizados como os blues. Quando “sujo” e distorcido imprimiu a fúria necessária para expressar o radical desejo de mudança do final dos anos 60 e inícios de 70.
A Telecaster, o pedaço de madeira com cordas de timbre estridente, rapidamente modificou a sonoridade dos estilos mais populares do início da década de 50, abrindo portas à revolução rock’ n’ roll. Terá sido, contudo, o modelo Stratocaster a confirmar o definitivo virar de página na história da música contemporânea.
Com um timbre mais fechado e mais grave, com o inovador tremolo e o design que permitiram uma nova distorção e tornaram o instrumento quase imune a burlescas desafinações, a Strato rompeu caminho para novas experimentações até ao presente.
Confirmando a tendência inovadora, a Fender tornou-se ainda responsável pelos mais obscuros e turbulentos acordes do rock. Inicialmente concebida para satisfazer as necessidades do jazz, a Jaguar (primeira versão designava-se Jazzmaster) falhou em toda a linha mas rapidamente assumiu papel determinante no rock alternativo. Para muitos a melhor e eventualmente para muitos mais a pior guitarra do mundo, a Jaguar é como um recurso musical que não pode cair em mãos comuns. A poeira sónica do final da década de 80 e inícios de 90 tem na Jaguar uma das principais responsáveis.
Seja no mais popular “riff”, num indecifrável virtuosismo ou na mais ruidosa composição, a Fender estará sempre num palco como na noite em que Hendrix a incendiou… queimando etapas na história da música contemporânea.